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O RECÔNCAVO DOS MEUS MEDOS

O RECÔNCAVO DOS MEUS MEDOS


O
vislumbre de uma forma de morte me fez acordar às 03:30 da manhã de
hoje. Levantei da cama inquieto e aflito, liguei o computador, naveguei
bom tempo pra ver se as emoções que me despertaram se dissipavam.

Funcionou e por volta das cinco já tava no berço, a sono solto.


tempos que não dava bola pros meus sonhos, como hoje. São
frequentemente tão surreais que cansei de tentar investigar possíveis
sinais que pudessem me orientar a partir do momento em que estivesse
novamente com os pés no chão, pronto para mais uma jornada.

Não
dá. Não li Jung o suficiente, não faço psicoterapia, nunca me submeti a
uma sessão de hipnose ou de regressão a vidas passadas. Não que tudo
isso passe longe do meu interesse ou necessidade. Adoraria poder
investigar os escaninhos da minha inconsciência com a ajuda de quem tem
as ferramentas adequadas para isso e saiba manejá-las com conhecimento e
sensibilidade. Mas não o fiz até agora, por negligência ou inconfessado
receio. Ou quem sabe pelo desalento causado pela inacapacidade de
entender o que penso quando acordado.

Estava diante de alguma
situação corriqueira, num ambiente com pessoas produzindo um certo
alarido, quando fui abduzido numa fração de segundo e remetido à órbita
de uma esfera branca, onde tudo era silêncio e imobilidade. Ali fiquei
tempo suficiente para tentar entender o que acontecia e não gostar nem
um pouco. Abri os olhos,  e acordei respirando
opresivamente. Manja aqueles sonhos em que você não consegue vencer a
imobilidade e sente medo disso? pois é, já sonhei assim também, embora
isso não aconteça recorentemente.

A novidade foi o clique, a
transferência súbita de ambiente, como que se eu tivesse sido desligado
de onde estava -um lugar como qualquer outro, familiar ao cotidiano-
para um completamente desconhecido. Quis entender o que se passara.

Sentei
há pouco em frente ao computador. Naveguei no noticiário, li e-mail e
fui dar uma xeretada livre por aí, talvez para dar espaços para à
intuição. Deparei-me com o blog do Adenor Gondim, que
produz e publica belas imagens da Bahia. Uma me chamou a atenção, é essa
que ilustra esse post, aí em cima. O adjá toca pra Yemanjá em
Cachoeira, à beira do rio Paraguaçú, ela que no Brasil tornou-se tão
popular por herdar de Olokun o patronato das águas do mar mas que não
perdeu sua autoridade como senhora dos rios. O mito da gênese de
Yemanjá, a propósito, relata como ela se tornou orixá ao transformar-se
num rio, lá na velha África.

Quem sou eu pra não registrar aqui
meus temores e minha reverência. Tô começando a até achar bom isso.
Arrisco ganhar um afago de Liliana Pinheiro -a mulher, a lenda, o mito-
que não perdoa o tom politicamente correto e multiculturalista que
muitas vezes inspira esse terreirinho blogosférico aqui. Dois ganhos num
só post, nada mal.

Yemanjá é uma deusa poderosa e zela por seus
filhos e filhas como uma leoa, até por aquelas que insistem em não
compreender o mito de Ogunté, que de espada em punho não se esquiva de
enfrentar suas batalhas ao lado de Ogun, seu eterno companheiro. E saem
distribuindo porrada cegamente -nelas mesmas, muitas vezes. E em quem as
ama, mais frequentemente ainda.

A orixá tem muito do que cuidar e
mesmo sem conhecer a fundo o que se passa não hesita em sair na defesa
de seu povo. Reverencio suas garras de mãe, primeiro defende depois vai
ver do que se trata.

Espero ter me explicado à deusa e que possa
dormir em paz hoje. E espero também que ela perdôe minha impaciência com
a belicosidade juvenil de suas lindas e cabeçudas oguntés. Se os orixás
muitas vezes não toleram as bobagens de seus filhos e os punem
exemplarmente, imagina eu que sequer entendo o que se passa dentro de
mim numa noite de sono.

Pra ver belas imagens da Bahia pela talentosa lente de Adenor Gondim, clique
AQUI e bom passeio.

Sobre jorgedoxum5

no momento preparando

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